20 de out. de 2010

Plano de ação dos malês

De acordo com o plano de ataque, assinado por um escravo de nome Mala Abubaker, os revoltosos sairiam da Vitória (atual bairro da Barra, em Salvador), "tomando a terra e matando toda a gente branca". De lá rumariam para a Água dos Meninos e, depois, para Itapagipe, onde se reuniriam ao restante das forças. O passo seguinte seria a invasão dos engenhos e a libertação dos escravos. O plano é denunciado às autoridades da Província, que preparam a contra-ofensiva. Os revoltosos atacam na madrugada de 25 de janeiro. Sem contar com o fator surpresa, o levante é desbaratado em dois dias. Cerca de cem escravos e negros libertos são mortos nos confrontos com a polícia, 281 são presos e pelo menos cinco dos principais chefes são fuzilados. Entre seus pertences são encontrados livros em árabe e rezas muçulmanas. 

O levante aconteceu num momento de expansão do Islam entre os africanos que viviam na Bahia. Acreditamos que o levante foi uma estratégia para facilitar essa expansão, pois sabemos que o Islam é totalmente contrário a escravidão. E para que houvesse a possibilidade de instituir uma sociedade Male (muçulmana) ou um Califado (Governo Islâmico) era de suma importância que os negros conseguissem sua liberdade, e toda a instabilidade que acercava o Império Português, propiciava os planos islâmicos. O próprio fato de africanos escravos e libertos professarem o Islam configurava uma cisão, um afastamento radical da máquina ideológica escravista e, portanto, uma rebeldia. Sei que logo no artigo 5 da constituição de 1824 o Catolicismo constava como a religião do Estado, única com direito a celebrar cerimônias públicas e estabelecer templos em qualquer localidade. Concediam apenas liberdade religiosa privada, uma concessão sobretudo aos estrangeiros livres, na época os brancos europeus que residiam no Brasil. As religiões africanas eram perseguidas, qualquer religião que não fosse a do Cristianismo, era tratado como feitiçaria, superstição. Isso não mudaria após a independência, pois continuariam a ser tratados na órbita policial, e não constitucional. Nesse sentido, os negros Malês (muçulmanos) eram tratados como marginais. 

Um dos Mestres (Iman) preso em 1835, Elesbão do Carmo, o Dandará, aparece nos autos da polícia como acusado de participar das insurreições do período dos Condes dos Arcos. Segundo uma testemunha , ele “por ser esperto sempre escapou de ser preso”. Ele não deve ter sido o único esperto, é claro!
Depois da prisão do líder principal o Iman Pacífico Licutam no final de 1834 ao início de 1835 coincide com a chegada de outro importante líder para a sua substituição, o Iman Ahuna, vindo de Santo Amaro.
A perspicácia desses líderes (imans) foi fundamental na consolidação de uma estrutura organizacional rebelde. Enquanto o número de convertidos e simpatizantes aumentava sem qualquer promessa concreta de revolta, eles avaliavam seus liderados, seduziam novos recrutas, estudavam as condições políticas, meditavam sobre o melhor momento de se rebelar. Para eles era importante escolher um momento estratégico de acordo com a vontade de Alláh (Deus). Para isso contavam com a confiança e o respeito de muitos discípulos dispostos a segui-los para onde fossem, sem aviso prévio, mas também de recrutas, menos comprometidos, e que guardassem bem os segredos.
Foi assim que o liberto Belchior da Silva Cunha, em cuja casa de orações em que se reuniam os muçulmanos (malês), guiados pelo Iman (líder) Luís Sanin “só soube do levante nas vésperas do acontecido”.
A maioria desses africanos, escravos ingleses, era ativos muçulmanos (malês), muitos de longa data e, no entanto, só foram convidados para o levante em cima da hora.
Toda a estratégia dos malês (muçulmanos) era baseada no calendário islâmico e no Alcorão. 
Muitos chefes de polícia, tinham que contratar tradutores para ajudar na tradução dos manuscritos em árabe encontrados com os malês (muçulmanos) presos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário