25 de out. de 2010

Religião e solidariedade

Se, de um lado, a gente da terra de branco, era considerada adversária dos rebeldes, de outro, a rebelião se baseava no princípio de que todo africano representava um aliado potencial (...) Mesmo que nem todos os mulçumanos aceitassem participar da revolta, esta foi, sem dúvida, capitaneada pelos malês mais militantes, que contaram para o levante com a participação de não mulçumanos. Se a religião foi linguagem, ideologia e força organizacional predominantes, outros elementos também contribuíram para a mobilização das pessoas  -entre os quais a solidariedade étnica e de classe.
No século XIX, Salvador era a cidade mais populosa da Bahia. Cerca de 90% da população livre vivia na pobreza. Isso piorou quando a região foi atingida por fortes secas.
Negros e pardos livres e escravizados representavam a maior parte dessa população, cerca de 72%. Vítimas do preconceito racial e da opressão social, muitos deles se rebelaram em 1835 em Salvador. Foi a Revolta dos Malês., cujo objetivo declarado era destruir a dominação branca na região e construir uma Bahia só de africanos.

Fizeram parte do movimento os malês, nome dado aos escravos seguidores do islamismo. Eles pertenciam a diferentes etnias, como a dos haussás, jejês e nagôs, muitos sabiam ler e escrever.

A Revolta começou dia 24 de janeiro. A idéia dos rebeldes era ocupar de surpresa o centro de Salvador. Cerca de 600 negros armados de espadas, participaram do levante. Após intensos combates, os rebeldes foram derrotados pelas forças policiais, que usavam armas de fogo.

Centenas de participantes da revolta morreram ou ficaram feridos.  Após a rebelião, desencadeou-se violenta repressão contra os africanos e afro-brasileiros. muitos foram condenados ao açoite, à pressão ou à deportação. Três escravos e um liberto foram condenados à morte e acabaram fuzilados, pois nenhum carrasco concordou em enforcá-los.


Gislaine e Reinaldo, História - Vo. único, 1ª Edição, São Paulo 2008, Editora Ática.

20 de out. de 2010

Revolta dos Malês

Na Bahia, devido muitos negros viverem lá, aconteceram muitas revoltas escravas contra a dominação branca. Os negros queriam acabar com a escravidão e voltar para a África. A revolta dos Malês aconteceu em 1835 e foi feita por negros islamizados ou que tiveram contato com o islamismo, eles eram chamados de malês, esses negros sabiam falar mais de uma língua e eles tinham conhecimentos; essa revolta reuniu várias tribos africanas rivais. A revolta estava marcada para vinte e cinco de janeiro, um domingo e dia de festa, quando a vigilância estaria relaxada. Os negros queriam atacar e tomar a cidade de Salvador de surpresa, transformando a Bahia em um território só de africanos, mas o movimento foi traído por negros forros que disseram o plano para seus ex-donos. Quando os brancos souberam da revolta repreenderam violentamente os negros.


No sábado dia 24 corriam rumores do levante do dia seguinte. Mas apenas entre escravos e libertos nesse mesmo dia, o liberto domingos Fortunato contou o plano para sua esposa. Depois de contar o que sabia á sua esposa Guilhermina Rosa de Sousa, mandou um recado ao seu antigo senhor dando noticia do plano da rebelião.

 O Juiz de paz convocou  a Guarda nacional para impedir a rebelião dos escravos  que lá estava reunido vários negros  os rebeldes saíram atacando aos gritos de “mata soldado”  e rompendo o cerco , fugiram em vários grupos  foram por volta de mais de setenta homens motos, mais de 500 foram presos.  Alguns deles  foram deportados e outros condenados à morte.



 O projeto da revolta  malê era tornar a Bahia um território só de africanos.
A revolta foi denunciada e por fim ela só serviu para motivação de varias outras revoltas.


A rebelião teve repercussão nacional e internacional. No Rio de janeiro uma notícia detalhada chegou ao público por meio de relatórios do chefe de polícia da Bahia. Temendo que o exemplo baiano fosse seguido, as autoridades cariocas estreitaram as vigilâncias sobre os negros e principalmente os malês (muçulmanos) locais, sobretudo na Corte imperial. Além de disseminar o medo e provocar o aumento do controle escravo em todo o Brasil, os rebeldes também reavivaram os debates sobre a escravidão e o tráfico de escravos da África, agora vistos com olhos mais críticos. Em Londres, Nova York, Boston e provavelmente outras localidades da Europa e das Américas, a imprensa também publicou relatos do levante liderado pelos negros malês (muçulmanos).

Plano de ação dos malês

De acordo com o plano de ataque, assinado por um escravo de nome Mala Abubaker, os revoltosos sairiam da Vitória (atual bairro da Barra, em Salvador), "tomando a terra e matando toda a gente branca". De lá rumariam para a Água dos Meninos e, depois, para Itapagipe, onde se reuniriam ao restante das forças. O passo seguinte seria a invasão dos engenhos e a libertação dos escravos. O plano é denunciado às autoridades da Província, que preparam a contra-ofensiva. Os revoltosos atacam na madrugada de 25 de janeiro. Sem contar com o fator surpresa, o levante é desbaratado em dois dias. Cerca de cem escravos e negros libertos são mortos nos confrontos com a polícia, 281 são presos e pelo menos cinco dos principais chefes são fuzilados. Entre seus pertences são encontrados livros em árabe e rezas muçulmanas. 

O levante aconteceu num momento de expansão do Islam entre os africanos que viviam na Bahia. Acreditamos que o levante foi uma estratégia para facilitar essa expansão, pois sabemos que o Islam é totalmente contrário a escravidão. E para que houvesse a possibilidade de instituir uma sociedade Male (muçulmana) ou um Califado (Governo Islâmico) era de suma importância que os negros conseguissem sua liberdade, e toda a instabilidade que acercava o Império Português, propiciava os planos islâmicos. O próprio fato de africanos escravos e libertos professarem o Islam configurava uma cisão, um afastamento radical da máquina ideológica escravista e, portanto, uma rebeldia. Sei que logo no artigo 5 da constituição de 1824 o Catolicismo constava como a religião do Estado, única com direito a celebrar cerimônias públicas e estabelecer templos em qualquer localidade. Concediam apenas liberdade religiosa privada, uma concessão sobretudo aos estrangeiros livres, na época os brancos europeus que residiam no Brasil. As religiões africanas eram perseguidas, qualquer religião que não fosse a do Cristianismo, era tratado como feitiçaria, superstição. Isso não mudaria após a independência, pois continuariam a ser tratados na órbita policial, e não constitucional. Nesse sentido, os negros Malês (muçulmanos) eram tratados como marginais. 

Um dos Mestres (Iman) preso em 1835, Elesbão do Carmo, o Dandará, aparece nos autos da polícia como acusado de participar das insurreições do período dos Condes dos Arcos. Segundo uma testemunha , ele “por ser esperto sempre escapou de ser preso”. Ele não deve ter sido o único esperto, é claro!
Depois da prisão do líder principal o Iman Pacífico Licutam no final de 1834 ao início de 1835 coincide com a chegada de outro importante líder para a sua substituição, o Iman Ahuna, vindo de Santo Amaro.
A perspicácia desses líderes (imans) foi fundamental na consolidação de uma estrutura organizacional rebelde. Enquanto o número de convertidos e simpatizantes aumentava sem qualquer promessa concreta de revolta, eles avaliavam seus liderados, seduziam novos recrutas, estudavam as condições políticas, meditavam sobre o melhor momento de se rebelar. Para eles era importante escolher um momento estratégico de acordo com a vontade de Alláh (Deus). Para isso contavam com a confiança e o respeito de muitos discípulos dispostos a segui-los para onde fossem, sem aviso prévio, mas também de recrutas, menos comprometidos, e que guardassem bem os segredos.
Foi assim que o liberto Belchior da Silva Cunha, em cuja casa de orações em que se reuniam os muçulmanos (malês), guiados pelo Iman (líder) Luís Sanin “só soube do levante nas vésperas do acontecido”.
A maioria desses africanos, escravos ingleses, era ativos muçulmanos (malês), muitos de longa data e, no entanto, só foram convidados para o levante em cima da hora.
Toda a estratégia dos malês (muçulmanos) era baseada no calendário islâmico e no Alcorão. 
Muitos chefes de polícia, tinham que contratar tradutores para ajudar na tradução dos manuscritos em árabe encontrados com os malês (muçulmanos) presos.

5 de out. de 2010

A situação dos negros em Salvador era peculiar. Muitos deles, cerca de metade da população da cidade, exerciam pequenos ofícios rentáveis: eram alfaiates, carpinteiros, vendedores ambulantes, acendedores de lampião. Esses trabalhadores deviam parte de seus ganhos a seus senhores e chegavam, em alguns casos, a comprar a liberdade. Entretanto, mesmo libertos, os negros eram tratados com desprezo e não tinham qualquer possibilidade de ascensão social.


Esta situação levou-os a se revoltarem contra os dominadores brancos e seus subordinados mulatos. A mais importante dessas revoltas ocorreu em janeiro de 1835. Organizada por africanos de formação muçulmana, os malês, a rebelião foi dizimada pelas tropas do governo, com o apoio das classes dominantes baianas. Muitos negros foram presos, torturados e mortos. Foram proibidos de circular à noite pelas ruas da capital e de praticar suas cerimônias religiosas típicas.